- 21% dos homens portugueses não tem qualquer tipo de cuidados diários com a pele
- 63% dos homens não hidrata a pele diariamente
- 64% não consegue identificar problemas de pele
- 77% nunca consultou um dermatologista
- Apenas 38% dos Portugueses hidrata a pele todos os dias
- Mais de 60% não sabe o que é Psoríase
As primeiras conclusões deste estudo permitem-nos ver que o desconhecimento sobre a pele é bastante elevado, ainda que 89% reconheça que a pele precisa de cuidados, apenas 25% os aplica diariamente. Uma das rotinas mais praticadas por ambos os sexos é a lavagem, sendo que 21% dos homens portugueses não tem qualquer tipo de cuidados com a pele (lavagem, hidratação, esfoliação, tonificação).
Nas palavras de Dra. Leonor Girão - dermatologista do Hospital Militar de Belém - a pele precisa de rotinas de higiene e hidratação diárias, "Algumas coisas são até bastantes simples. Naturalmente que quanto mais flexível, elástica e hidratada estiver a nossa pele, menos ela descama e fica irritada. Por isso devemos incluir nos nossos hábitos diários a aplicação de cremes e loções com conteúdo rico em lípidos de forma a reforçar o filme lipídico (a quantidade de gordura natural) que existe à superfície da pele. Ao aplicarmos estas loções corporais oleosas estamos a "impedir" que a água existente nas células das camadas superficiais da pele saia."
Os rituais diários de higiene e cuidados são desvalorizados pelos Portugueses, sobretudo pelos homens. "O banho faz parte dos cuidados básicos de higiene da pele. (...) Quererá limpá-la sem que ela fique áspera, vermelha ou a descamar, como acontece com sabões vulgares. Para isso deverá usar um gel de banho que respeite a pele. Que tenha um pHfisiológico, compatível com a pele, que retire a sujidade sem retirar a camada protectora cutânea e que não deixe resíduos irritantes para a pele. Além disso pode reforçar a camada protectora se deixar uma camada lipídica à superfície. É isso que um bom gel de banho consegue fazer: limpar a sua pele mantendo-a íntegra e suave." [Dra. Leonor Girão]
Dra Leonor explica como é fácil adoptar hábitos diários de forma a manter a pele saudável, nos quais se deve conjugar "a acção de limpeza com a função "hidratante" ou, em termos médicos, função emoliente" A aplicação de uma loção hidratante logo após o banho é fundamental "... porque não é o produto que coloca água na pele; o que os lípidos do produto fazem é selar a água nas células, que entrou por osmose. E a reposição deste filme hidrolipídico confere-lhe elasticidade e maior resistência." Quanto mais se reforçar esta camada protectora, mais forte e resistente se torna a pele.
Quando questionados sobre o seu tipo de pele, 27% admite ter pele seca. Cruzando este dado com o facto de a grande maioria dos portugueses não hidratar a pele diariamente, podemos constatar que este é um cenário que se poderá tornar preocupante pois uma pele mal hidratada torna-se uma porta aberta para um grande número de problemas, facto que é agravado quando falamos de peles tendencialmente secas e muito secas. Dra. Leonor explica que "A nossa pele tem a responsabilidade de nos proteger contra as diferentes agressões do meio exterior, como sejam os microrganismos, as poeiras, o vento, o frio e o sol. Para que isso aconteça a pele tem de estar saudável, isto é, ser flexível, maleável, macia, ter a sua superfície intacta e a quantidade de lípidos adequada para a manter "impermeável". Mas a realidade é que as agressões diárias provocadas pelo clima, roupa apertada e hábitos de higiene débeis ou demasiado agressivos tornam a pele mais frágil e sujeita a descamar e inflamar. (...) A aplicação de um produto rico em lípidos em todo o corpo, creme ou loção, após o banho, é fundamental - ajuda a selar a água dentro das células, nas camadas superficiais da pele, evitando que esta se perca e a pele pareça "desidratada". Torna também a pele mais resistente aos agentes agressores, menos descamativa e menos irritável. Quanto melhor for a camada hidrolipídica superficial da pele menos esta descama e menos vezes temos prurido (comichão), vermelhidão e fissuras ou gretas. Isto é particularmente importante em zonas do corpo mais sujeitas a agressões, como as mãos e pés, e em zonas típicas de pele mais seca, como sejam as pernas."
Este tipo de cuidados ganha uma importância acrescida quando consideramos a estreita relação entre uma pele saudável e o bem-estar emocional. Dra Catarina Severiano, psicóloga do Hospital de Torres Vedras, afirma que "É actualmente reconhecida cientificamente a estreita relação e interacção entre a pele e a mente. A pele desempenha uma função de extrema importância para o organismo humano. Funciona como barreira protectora, que separa o interior do exterior. É o nosso envelope corporal. É através dela que nos relacionamos intimamente com o outro, logo é também através dela que, muitas vezes, exteriorizamos o que sentimos e que, por vezes, dificilmente verbalizamos."
Mulheres e jovens tendem a usar mais produtos correctos e adequados ao seu tipo de pele, do que os homens e indivíduos nas faixas etárias dos 40 aos 55 anos, facto que se pode dever à identidade cultural do País. Quando comparamos os dados entre homens e mulheres encontramos também uma enorme diferença no que toca à hidratação,enquanto 92% das mulheres admite utilizar esporadicamente produtos de hidratação, 63% dos homens confessa que não os usa.
Apenas 38% dos Portugueses hidrata a pele todos os dias, sendo que a frequência de hidratação da pele aumenta no Verão.
De forma a avaliar o conhecimento sobre a própria pele, a amostra foi questionada sobre as suas próprias doenças cutâneas e unicamente 6% reconhece ter algum tipo de problema diagnosticado, sendo que as mais informadas sobre esta questão são as mulheres. Dra. Leonor afirma que "A verdade é que a maioria das pessoas tende a não valorizar as doenças de pele, pois há a percepção de que os problemas de pele passam com o tempo. Na realidade nem sempre é assim e muitos dos problemas podem ser resolvidos e evitar sequelas (como as cicatrizes do acne, por exemplo) se devidamente acompanhados por dermatologista."
Apesar desta grande desvalorização de alguns sintomas, como vermelhidão, comichão, pequenas manchas, pele seca e descamativa, a procura de especialistas nesta área é bastante reduzida, pois 77% dos Portugueses nunca consultou um dermatologista. Esta é uma prática que deveria ser fomentada, pois "No geral todos deviam ser observados por um dermatologista para observação e registo de lesões cutâneas (sinais, por exemplo) e saber quais os cuidados de manutenção a ter com a sua pele. A regularidadeposterior deverá ser determinada pelo médico, consoante o tipo de lesões observadas (pele clara e muitos sinais deverá ir com mais frequência do que pessoas com poucos sinais, regulares e benignos) e/ou doenças de pele constatadas (micoses, acne, rosácea) que obrigam a visitas mais frequentes até à resolução do problema." [Dra. Leonor Girão]
Dentro dos 23% que admitem já ter tido uma consulta na especialidade de dermatologia, detectamos uma maior incidência na faixa etária dos 40 aos 49 anos.
Actualmente, somente 3% dos portugueses recorrem a dermatologistas uma ou mais vezes por ano.
64% dos Portugueses não consegue identificar problemas de pele e revela ainda que considera esta uma tarefa muito difícil. No entanto, quando lhes é pedido para seleccionar de uma listagem os problemas/doenças de pele que reconhecem, o melanoma ganha o lugar de grande destaque com um índice de 57%, com mais ênfase junto dos homens. Como podemos ver no quadro abaixo, a celulite é mais valorizada enquanto problemática do que a Psoríase.
Dra. Leonor Girão destaca este facto pois "A celulite na forma em que é identificada pelas pessoas não é verdadeiramente uma doença mas mais um problema cosméticosobretudo na sua aparência inicial.", ao passo que "A Psoríase é realmente uma doença cutânea, crónica, não contagiosa, com fundo genético e tem uma prevalênciarelativamente alta na população."
A Psoríase é uma doença crónica, não contagiosa, que pode surgir em qualquer idade. O seu aspecto, extensão, evolução e gravidade são muito variáveis, caracterizando-se, geralmente, pelo aparecimento de lesões vermelhas, espessas e descamativas, que afectam preferencialmente os joelhos, região lombar, cotovelos e couro cabeludo. Estapatologia afecta cerca de 250 mil pessoas em Portugal e tem implicações que ultrapassam o físico, pois por ser uma doença com sintomas muito visíveis, frequentemente afecta os doentes a nível psicológico e até mesmo na sua relação com a sociedade. Nas palavras da Dra. Leonor Girão, " Muitas pessoas desconhecem a doença e, pelo seu aspecto de manchas descamativas na pele, pensa que é contagiosa. Tem portanto uma estigmatização grande."
Com sintomas e causas físicas, esta doença afecta os doentes também a nível psicológico, Dra Catarina Severiano, explica esta ligação: "A forte relação entre a pele e o stresse está internacionalmente estudada. Inúmeras investigações científicas comprovam a sua relação de reciprocidade, sendo o stresse identificado como causa e consequência da Psoríase. O carácter inconstante e imprevisível dos episódios de Psoríase contribui, de largo modo, para a instabilidade interna dos doentes, com consequente aumento da vulnerabilidade ao stresse e dos índices de depressão e ansiedade."
João Cunha, Presidente da PSOPortugal - Associação Portuguesa da Psoríase, afirma que "Esta enorme percentagem [de desconhecimento da doença] reforça a importância do trabalho que tem que ser feito. (...) O facto desta doença ser crónica, para nós doentes e para os médicos que a tratam, mas não ser reconhecida como crónica pelo Serviço Nacional de Saúde, faz com que muitos dos doentes de psoríase não se tratem por não conseguirem suportar o custos dos medicamentos e todos auxiliares como champôs, loções, cremes hidratantes fundamentais para o tratamento da psoríase."
Questionados directamente sobre a Psoríase, se conhecem ou já ouviram falar, o índice sobe para 38%, dos quais apenas 26% sabe reconhecer pelo menos um sintoma da Psoríase, sendo que a escamação da pele é o mais mencionado. Por ser tão visível, este é um sintoma que afecta em muito os doentes, que coloca uma grande pressão social e que tem drásticas repercussões a nível de qualidade de vida. Nas palavras da Dra. Catarina, "A exposição da pele escamada perante o olhar inocentemente ignorante dos outros parece ser um dos factores mais devastadores para a manutenção da saúde emocional dos doentes de Psoríase. (...) Em muitos casos, os doentes de Psoríase temem ser isolados, rejeitados e apresentam fantasias de abandono. Situações deste tipo, acrescidas à estrutura de personalidade, fundamentada numa imagem corporal debilitada pela doença, podem influenciar a capacidade de aceitação e satisfação pessoais e a adaptação social. Procurar emprego, ir ao cabeleireiro ou ao ginásio, acontecimentos que poderão considerar-se vulgares, são para muitos doentes barreiras com que se defrontam diariamente."
Estudos internacionais concluem que mais de 50% dos doentes de Psoríase têm tendências depressivas, João Cunha revela ainda que "Na maioria dos casos, o impacto psicológico causado pela discriminação provocada pelo aspecto das lesões, por ser uma doença crónica e o desespero que atravessa a vida das pessoas quando não conseguem tratar a doença que as assola, leva a que os doentes de psoríase necessitem de um apoio extra para conseguirem lidar com esta doença. Existem alguns estudos que revelam que a psoríase é a 3ª patologia com maior incidência de suicídios."
Dra. Catarina Severiano faz o apelo "É urgente a divulgação e o acesso fácil à informação acerca da Psoríase. A prevenção do estigma social deverá obrigatoriamente iniciar-se junto das crianças, através da transmissão de conhecimentos acerca da doença e da sensibilização para as suas causas e consequências."
A pele, um dos elementos mais fortes conhecidos pelo homem, tem a capacidade de se auto-regenerar, é impermeável, estica e volta à sua forma inicial, é responsável pela protecção do nosso organismo contra as agressões externas, pelo controlo da nossa temperatura corporal e também pela sensibilidade táctil através da qual sentimos o mundo e os que nos rodeiam. Uma pele mal hidratada torna-se vulnerável às agressões externas, perde capacidades regenerativas e aumenta as probabilidades de contrair doenças cutâneas.
No entanto, estes são factos que não fazem parte do senso comum dos Portugueses, o que faz do panorama dermatológico português, um cenário preocupante a nível de saúde pública.
Metodologia
Este documento resume as conclusões de um estudo quantitativo, realizados pela ACNielsen através de entrevistas telefónicas - conduzidas por intermédio de um questionário estruturado com perguntas fechadas. O seu target foram 500 indivíduos entre os 20 e os 55 anos de idade, de Portugal Continental, de ambos os sexos . Esta amostra compreende 500 entrevistas e tem um erro máximo associado de +/-4.4 para um nível de confiança de 95%.